quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Consumo Televisão Realidade

_.Ô manhêee! Nós temos que comprar o novo Multifaciliteitor 2010/15. Por favor, mãe!
_Está bem querido, mas Pedrinho... O que é um Multifaciliteitor 2010/15?
_Ah! O que é eu num sei. Mas o moço da TV disse que, hoje em dia, ninguém mais pode viver sem um desses.
_Tudo bem meu filho. Agora deixa a mamãe trabalhar e vá assistir mais TV


Pedro tem 10 anos, passa maior parte do dia assistindo televisão, desde seus três anos, idade na qual, foi apresentado e deixou-se envolver por esse mundo mágico. Seus pais são separados e como na maioria das famílias, ele ficou com a mãe. Embora, em todos os segundos domingos do mês, ele passe uma tarde inteirinha com seu pai. Tarde essa que se propaga na frente de uma bela Televisão de plasma 42’. TV cuja programação se diversifica em 320 canais de alta definição.

Na casa de sua mãe, Pedro pode escolher entre à TV da sala, do seu quarto ou da cozinha, para assistir todos os 38 programas diários que fazem parte de sua rotina. Certa vez, ele acabara se dando mal numa prova de matemática. Resolveu então, pedir ajuda a sua mãe, só que a pobrezinha estava muito ocupada. Assoberbadíssima, como ela mesma enfatizou. Foi então que ele lembrou-se, de ter visto, que às seis horas da manhã passaria um programa sobre matemática no Tele curso 2010, acordou cedinho, o assistiu e assim conseguiu recuperar sua nota.

E embora, fosse uma criança privilegiada, Pedro sentia que algo estava faltando em sua vida. Ele pensava que sua família deveria ser como: as dos comerciais de margarina. Imaginava seu cachorro salvando a terra, sua avó fazendo bolos e lhe contando histórias sobre a Cuca. Queria ele, ter uma vida tão boa quanto às das pessoas que moravam dentro da TV. Pobrezinho.

Tudo do lado de dentro do vidro parecia melhor, de que, o que estava do lado de fora. O carro da mãe da marcinha - na novela das 20:00h - é bem melhor e mais bonito que o de sua mãe. Até as crianças da escola - na novela das 18:00h – lhe parecem muito mais maneiras de que seus amigos de verdade. Só que Pedrinho tinha uma certeza. Ele sabia que um dia teria muito dinheiro, e então ia poder comprar tudo que sua TV lhe oferecia. Todas aquelas propagandas, diziam, insistentemente, tudo que ele podia ter, mas não tinha. Tudo que ele queria, que desejava, que sonhava em possuir. Será que ele vai conseguir?

Bom na verdade, tenho que confessar algo. Eu me chamo Pedro, não tenho mais 10 anos, não moro mais com a minha mãe e há muito tempo não passo as tardes do segundo domingo do mês com meu pai. Querem saber o que aconteceu comigo?

Eu cresci! A televisão foi minha fiel companheira por muito tempo. Embora não me desse muita coisa, apenas oferecia palavras de conforto, entretenimento, me fazia sorrir, chorar, dormir. Às vezes me deixava bravo, triste, às vezes angustiado, decepcionado... Mas, quem não faria o mesmo.

Minha adolescência foi bem mais conturbada. É que eu ainda não entendia o fato de não poder viver a falsa realidade imposta pela TV. Então fiquei meio que... Revoltado. Digamos que eu tinha uma, certa obsessão por quebrar coisas. Destruir aquilo que eu queria pra mim. Destruir aquilo que... Eu tinha todos os dias, esfregado em minha face. Mas que era feito de uma maneira tão linda e subjetiva, na qual eu não conseguia distinguir.

Parecia que a felicidade estava tão perto de mim, mas meus braços não a alcançavam. Eu me consumia por dentro, pelo fato de não poder consumir aquilo que estava fora.

E pensar que devo tudo isso aos meus pais. Ou... À falta que a presença deles me proporcionava.

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